quarta-feira, 14 de março de 2012

MELANCOLICARIUM




A música que acompanhou/inspirou a criação deste poema é "A minha oração", do cantor André Valadão. Recomenda-se ler o poema ouvindo a canção, para melhor envolvimento com a obra. Segue link de um vídeo no youtube onde André Valadão interpreta a referida música:  http://www.youtube.com/watch?v=Zn-wPjlj5vA 


(Dos tempos)

Assisto à tarde partir e a noite chegar
Timidamente surge a primeira estrela
Vivaz, brilhante, queimando
Assisto à estrela colorir o céu

Vagueio em bruscos pensares
Eu costumava usar uma aliança
E me cobria de finura invejável
Agora me calo sem nada louvável

Agruras de tempos memoráveis
Agora cercam-me com tamanha fúria
O mar que cerca esta ilha é ácido
E eu não sei nadar para fugir

Austeras visitas a cada manhã que nasce
De apertos e solavancos impetuosos
É tão bonito o maquinário mental
Mas sua cura está a milhas de distância

Assisto ao sol sorrir, com a alma seca
O tanque se renova enquanto há prantos
E o ciclo de esvaziá-lo e enchê-lo me sufoca
Jazem enterrados em mim antigos encantos

(Das alianças)

Canto músicas que queimam o espírito
E cortam-me feito navalha cega
Vejo escorrer pelo nariz uma coriza traumática
Mas a febre é melhor do que a frieza da alma

Eu costumava usar uma aliança
Disso lembro-me de já ter dito
É que ela era tão excessivamente cara
Perdi-a num bueiro qualquer das desventuras

Algumas rimas lidas deitadas pelo chão
Molhando no café um pedaço de pão magro
Penduradas no varal estão as velhas vestes
Manchadas, todavia, encontram-se eternamente

Queria expressar algum tipo de desabafo
Desses que se extrai da alma angustiada
Sei lá, talvez 10.000 lágrimas
Mas deixar vazio pra sempre o reservatório


Eu costumava caminhar com gente
E me dispus a tal estado animalesco
Em que os próprios bichos de mim tem pena
Voam, rastejam, ocultam-se longe de meus vexames

Um dia isso há de ser ricamente colorido?
Não o sei, temo pela resposta a tal pergunta
Receio ter sido esquecido, todo esse tempo sofrido
Por um sonho que nunca passou de uma canção

Mantenho-me espectador fiel do advento das trevas
A noite escorre pela minha pele e me envolve
Eu costumava usar uma aliança
E em algum lugar fértil ela espera por mim...



quarta-feira, 7 de março de 2012

A DANÇA DAS QUIMERAS



Precisas correr
O cheiro já não é bom
A essência se desfez
Virou fumaça negra

O tempo corre contra si mesmo
As promessas foram quebradas
E as mãos ainda atadas
Tornou-se exceção à regra

Filha, lá fora nascem as rosas
A fuga de um sonho bom
Feche os olhos e imagine campos férteis
Etéreas visões de um mundo novo

Crepúsculos e auroras dançam
Enquanto olhos cintilam esperança
Mas é necessário uma decisão antes
Uma só, para romper o véu do medo

Precisas, de fato, correr
Enquanto ainda há água corrente
Diante de ti, filha minha tão amada,
Encontra-se a vias de morte ou vida

Busque cura perene para tua dor
Envolva-te em lençois de branco puro
Dance, cante, alegra-te livre
E volte aqui para contar-me as boas novas...